No contexto da ocupação da Bahia por holandeses em 1624 (¹), autoridades coloniais ordenaram à Câmara de São Paulo que toda a pólvora existente na vila fosse remetida a Santos, para preparação da defesa, caso houvesse um ataque de holandeses também no litoral da Capitania de São Vicente.
Os camaristas, porém, não tinham a menor intenção de obedecer e, em idas e vindas de correspondência oficial entre São Paulo e Santos, a entrega da pólvora, que se dizia ser de apenas quatro arrobas, foi sendo adiada. Argumentava-se que os moradores do planalto precisavam dela, porque parecia iminente um levante de indígenas, situação em que a pólvora, dizia-se, seria a única garantia para os colonizadores. Mas, afinal, quantas eram as armas de fogo existentes na vila?
Em uma carta enviada a Santos, destinada ao capitão-mor Álvaro Luís do Vale, que governava em nome do Conde de Monsanto, aparece uma informação muito interessante:
Trabuco colonial - detalhe (²) |
Em uma carta enviada a Santos, destinada ao capitão-mor Álvaro Luís do Vale, que governava em nome do Conde de Monsanto, aparece uma informação muito interessante:
"[...] se acordou que a pólvora que há nesta vila e se tem tomado por ser pouca, que não são mais que quatro arrobas, que era bem que se não tirasse da vila, pois nela há passante de duzentas e cinquenta armas de fogo para as quais é bem necessária e não basta para se acudir à ocasião quando se oferecer, além de que há nesta vila muito gentio de que nós podemos temer se queiram aproveitar da ocasião para se levantarem, pois entre ele se trata já, e o dito gentio se não teme mais que das armas de fogo, pelo que se acordou em toda a junta atrás referida que a pólvora se repartisse por todos os moradores desta vila que têm armas de fogo, obrigando-se cada um a dar conta da que se lhe der [...]." (³)Passavam, portanto, de duzentas e cinquenta as armas de fogo em mãos dos moradores de São Paulo e adjacências. Eram muitas, se considerarmos que, na época, São Paulo era uma vila de população pouco numerosa, e continuariam a ser muitas, mesmo que admitidos os colonizadores residentes em fazendas nos arredores. Não se desejava entregar a pólvora, porquanto sua utilidade era óbvia quando, mesmo sob severa proibição, eram feitas investidas no sertão para a captura e escravização de indígenas, algo em que muitos paulistas do Século XVII eram peritos.
(1) A ocupação da Bahia durou de 9 de maio de 1624 a 27 de março de 1625 - menos de um ano, portanto.
(2) Do acervo do Museu da Mina de Ouro, Araçariguama - SP.
(3) O trecho citado da carta ao capitão-mor foi transcrito na ortografia atual, com acréscimo da pontuação indispensável à compreensão.
(3) O trecho citado da carta ao capitão-mor foi transcrito na ortografia atual, com acréscimo da pontuação indispensável à compreensão.
Veja também:
Quando o perigo espreita - esses tempos eram de constante agitação - cada um pensa no fundilho das suas calças, não vá o diabo tecê-las. Compreendem-se, pois, os cuidados dos representantes da população de S. Paulo.
ResponderExcluirUm bom final de semana, Marta :)
Cuidados e interesses, porque eram gente mais que esperta em puxar a sardinha para a própria brasa.
ExcluirObrigada pela visita ao blog. Que a nova semana seja excelente!