Como foi tramada a Revolta de Beckman
Século XVII, ano de 1684: estava em curso a chamada Revolta de Beckman, no Maranhão. Valendo-se da ausência do governador que exercia o mando em nome do rei de Portugal, homens da elite econômica, liderados por Manuel Beckman, se rebelaram e obtiveram, durante algum tempo, o controle da capital, São Luís.
As causas dessa revolta, dentre outras, foram:
- A insatisfação com o monopólio concedido pelo governo português a uma espécie de companhia de comércio, que teria exclusividade em vender o que vinha do Reino e, também com exclusividade, o direito de comprar aquilo que se produzisse no Maranhão, tendo em vista o mercado externo. Disso resultavam desvantagens para a população local, porque os valores oferecidos para compra eram considerados muito baixos, enquanto os preços cobrados por tudo o que se vendia eram demasiadamente elevados;
- A elite econômica, quase toda agrária, pretendia a expulsão dos jesuítas, por sua insistência em lutar contra a escravização de indígenas. Senhores de engenho, por exemplo, julgavam que era impossível produzir açúcar se não dispusessem de mão de obra escrava.
Mas, voltando a falar do idealizador e líder da rebelião, somos informados por Bernardo Pereira de Berredo e Castro (¹) que, estando Manuel Beckman fora da capital, em uma fazenda de sua propriedade, tramava a insurreição com alguns de seus aliados, tendo o cuidado de enviar a eles mensagens secretas. Até aqui, nada surpreendente, se considerarmos os riscos envolvidos, dos quais os rebeldes estavam cientes. Curioso, mesmo, era o modo de fazer chegar a eles os ditos comunicados: "[...] assistido ainda dos mesmos confidentes, comunicou a outros a resolução que havia tomado, porém com tal cautela, que meteu os avisos em queijos de vacas, de que abundava a mesma fazenda; até que satisfeito das operações da sua indústria, passou à cidade de São Luís, para lhes dar mais alma com a sua presença." (²)
Sim, os revoltosos de fato tomaram o controle da cidade, promovendo um levante popular que parecia ter alguma probabilidade de êxito; também expulsaram os odiados jesuítas - mas não para sempre. Como se sabe, quando finalmente as autoridades lusitanas recobraram as rédeas do governo (³), Manuel Beckman pagou com a vida, e não sozinho, a audácia de atentar contra a ordem colonial. Não se imagine, porém, que o efêmero movimento por ele liderado tivesse qualquer viés de independência. Estavam em questão apenas problemas locais, suscitados, em grande parte, pelo modo como, economicamente, se deu a colonização.
(1) Berredo foi, mais tarde, governador do Maranhão e Pará. Com amplo acesso à documentação existente na época, escreveu os Anais Históricos do Estado do Maranhão.
(2) BERREDO, Bernardo Pereira de. Anais Históricos do Estado do Maranhão, Livro XVIII. Lisboa: Officina de Francisco Luiz Ameno, 1749, p. 590.
(3) Não é incomum que o apoio das massas às causas rebeldes não seja duradouro, um fenômeno talvez explicável pelo temor às possíveis represálias.
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Estratégia realmente interessante.
ResponderExcluirSim, em uma ocasião em que os riscos eram imensos.
ExcluirPormenores que desconhecia duma certa colonização, com suas oposições, embora não estranhe as consequências para quem se limita a ter uma visão local, e não global. É que o poder, seja em que latitude for, não costuma perdoar.
ResponderExcluirFique bem, Marta :)
O poder é muito sedutor, daí a disputa por ele. Quanto aos resultados... Você tem toda razão.
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