quarta-feira, 30 de julho de 2014

Rico como um Creso

A expressão já caiu em desuso, mas, antigamente, referindo-se a alguém muito rico, diziam as pessoas de certa instrução que o sujeito "era rico como um Creso".
Pois bem, Creso foi rei da Lídia, na Ásia Menor, no Século VI antes de Cristo. A capital desse reino era a cidade de Sardes, que se tornou riquíssima, em decorrência das conquistas militares empreendidas por Creso, bem como da exploração de ouro no rio chamado Pactolo. O ouro do Pactolo está, no entanto, envolvido em uma série de lendas, razão pela qual, historicamente, será mais sensato considerar que, como acontecia na Antiguidade (e em outros tempos também) foi mesmo a guerra que fez da corte de Sardes um lugar esplendoroso. Embora seja um fato de difícil comprovação, acredita-se que no reino da Lídia tenha ocorrido a invenção da cunhagem de moedas.
Tamanha era a fama da riqueza que havia no reino de Creso que - é Heródoto quem relata - gente de toda a Grécia corria a visitá-lo, não ficando fora disso os famosos "sábios". Até mesmo Sólon, o legislador ateniense, teria estado em Sardes.
No entanto, Creso, imensamente rico, não estava ainda satisfeito. Levando em conta a natureza humana, seria mesmo estranho que estivesse. Resolveu meter-se em guerra contra Ciro, o Persa, crendo, ainda segundo Heródoto, que o oráculo de Delfos lhe era favorável.
Tolinho... Tudo que vinha de Delfos tinha sentido dúbio, e podia ser interpretado de acordo com a vontade de quem mandara consultar a pítia. Em termos práticos, Creso confiava nos recursos tão vastos de que podia dispor, bem como na ajuda de supostos aliados, como os egípcios, por exemplo. Eram os lídios, ademais, tidos como bons soldados: combatiam a cavalo, empunhando lanças compridas.
Um detalhe curioso, mencionado por Heródoto, é que, no decisivo combate, Ciro teria posto um grupo de camelos à frente de suas tropas, com o objetivo de intimidar os cavalos montados pelos lídios. A esperteza parece ter funcionado. Pelo menos, a princípio. Os lídios, derrotados em campo, refugiaram-se em Sardes, que finalmente foi tomada pelo inimigo.
Relatos do passado são discordes quanto ao que ocorreu em seguida. Dizem, alguns, que Creso e sua família tentaram morrer queimados no alto de uma pira, para que não caíssem em mãos dos persas; dizem, outros, que os persas teriam tomado a iniciativa de queimar o rei dos lídios, mas que, finalmente, teriam mudado de ideia. Heródoto menciona que, sendo Ciro um tanto supersticioso, alarmou-se com o fato de começar a chover sobre a fogueira, o que lhe parecia um presságio infeliz. De qualquer modo, Creso, foi, por ordem de Ciro, conduzido vivo à sua presença. Mas, se pensam os leitores que, a seguir, houve um espetáculo de carnificina ao estilo assírio-babilônico, estão enganados. A política de Ciro era, em geral, fazer aliados. Por isso, não somente conservou Creso vivo, como o fez membro de seu conselho.
No entanto, de homem reputado o mais rico de seus dias, viu-se Creso reduzido a prisioneiro de luxo na corte de Ciro, o Persa. Não podem negar, meus leitores: o estudo da História e as reflexões que sugere, ainda quando sem grande profundidade e sutileza, podem ser muito úteis, até mesmo para "pessoas comuns", não é verdade?


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