terça-feira, 9 de agosto de 2011

Dormir em redes - Parte 3

"Às vezes entrava em casa ao amanhecer. Não podia dormir logo; vinha excitado, sacudido pelas impressões e pela bebedeira da noite. Atirava-se à rede, com uma vertigem impotente de conceber poesias byronianas, escrever coisas no gênero de Álvares de Azevedo, cantar orgias, extravagâncias, delírios."
                                                                                                        Aluísio Azevedo, Casa de Pensão

Para os indígenas do Brasil, para bandeirantes, para monçoeiros, a rede era um modo muito conveniente de "carregarem a cama nas costas", onde quer que fossem. Ora, leitor, o hábito tornou-se tão arraigado que foi (e em alguns lugares ainda é) usado mesmo por gente estritamente sedentarizada.
Viajantes estrangeiros que percorreram o Brasil no século XIX tiveram a oportunidade de verificar e deixar registros desse costume bastante longevo. As imagens que fixaram revelam, inclusive, um fato curioso: uma certa semelhança entre o interior de uma habitação indígena e o da residência de uma família pobre, como se pode perceber pelas amostras seguintes - uma evidente influência e perpetuação dos hábitos dos ameríndios.

Imagem 1 - Interior de uma habitação indígena, ocupada por índios mundurucus, segundo Hércules Florence (¹)


Imagem 2 - Interior da habitação de uma família pobre, segundo Debret (²)


(1) FLORENCE, Hércules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. Brasília: Ed. Senado Federal, 2007. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, vol. 2. Paris: Firmin Didot Frères, 1835. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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