Paraty, uma das "cidades históricas" do Brasil, apresenta hoje uma singular característica, perceptível mesmo em meio à multidão de turistas que percorriam suas ruas em julho passado: as residências e pontos comerciais particulares estão muito bem cuidados, com excelente aspecto, quase não há imóvel que não apresente pintura recente. O burburinho nos mais diversos idiomas, o clima algo tépido, mesmo no inverno, o vento que sopra do mar, tudo contribui para fazer desse antigo porto do ouro que vinha das Gerais um lugar muito agradável.
Eu disse tudo? Nesse caso, cabe uma correção. Há muitos locais de grande interesse histórico (e turístico) que estão com aspecto sofrível, precisando de obras de conservação com urgência. Chafarizes e algumas igrejas são bons exemplos. Vai além o problema, já que a água da baía de Paraty estava imunda e, se digo só isso, estou ainda elogiando. Por toda parte havia muita sujeira e as ruas estavam cheias de fezes de animais.
Mas Paraty é Paraty, conserva muito do encanto do passado e sempre vale a visita. A propósito, vou contar um acontecimentozinho divertido que, mesmo sem querer, presenciei.
Há, na cidade, um grande número de charretes conduzidas por guias turísticos que, transportando turistas a passeio, vão repetindo sempre a mesma lista de informações: Nesta casa... Este muro... Esta igreja... E os bons cavalos, com toda a fleuma, seguem a marcha lenta imposta por seus condutores, enquanto fazem, a cada dia, o mesmo trajeto, sabe-se lá quantas vezes. Não quero emitir aqui nenhum julgamento sobre a atividade imposta a esses animais, mas registro que vi charretes em mau estado de conservação, deixando cair partes pelo caminho, e me pergunto se os animais são algo mais bem tratados que os veículos que conduzem. Enfim, espero que estejam recebendo água e alimento suficientes e que não sejam forçados a trabalho excessivo.
De volta ao assunto, estava eu fotografando a fachada da Igreja de Nossa Senhora das Dores quando uma dessas charretes passou por ali, reduzindo a marcha, à medida que o guia começava o discurso de sempre: "Esta é a Igreja de Nossa Senhora das Dores, construída..." (*) Não teve tempo para mais palavras, pois o cavalo, subitamente, saiu em disparada, levando guia e turistas em alta velocidade rua afora, ao som das gargalhadas dos que assistiam toda a aventura. Posso supor que nem mesmo esse bravo cavalinho suportava mais a irritante cantilena, que em seu labor diário já deve ter ouvido centenas, talvez milhares de vezes.
(*) Para não decepcionar nenhum leitor, acrescento a informação de que a Igreja de N. Sra. das Dores, oitocentista, era frequentada principalmente pelas senhoras da elite da bela Paraty.
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