terça-feira, 28 de maio de 2019

Um templo na ilha de Tera em honra de Poseidon

A erupção vulcânica que arrasou a ilha de Tera (¹), no mar Egeu, foi acontecimento notável na Antiguidade, provocando debates até hoje. A fúria do vulcão, conforme disse Estrabão (²) em sua Geografia, teria durado quatro dias, fazendo com que o mar ao redor fervesse e as consequências fossem percebidas muito além do exíguo território insular em o fenômeno ocorrera. Há questionamentos quanto à data desse fato, mas, considerando as várias teorias correntes, não há risco exagerado de erro em se considerar algo entre 1600 e 1500 a.C. 
Voltando ao que disse Estrabão (³), assim que cessou a fúria vulcânica, os moradores da ilha de Rodes, que na época dominavam a região, teriam sido os primeiros que ousaram pisar em Tera. Corajosos? Pode ser, mas a explicação talvez estivesse além da coragem. Trataram logo de erguer em Tera um santuário em honra de Poseidon (⁴), o deus do mar e dos terremotos. Como sabem, leitores, na Antiguidade os fenômenos extremos da natureza, não sendo devidamente compreendidos, eram atribuídos à ira dos deuses. Portanto, o templo que Estrabão afirmou ter-se construído na ilha arrasada devia ter o propósito de acalmar o irritadiço Poseidon, evitando novos acessos de raiva Egeu afora - em Rodes, por exemplo...
Nossa fonte, Estrabão, viveu muito tempo depois da erupção em Tera, e não sabemos se a gente de Rodes, foi, de fato, construir um templo na ilha ainda fumegante. Contudo, a homenagem a Poseidon é perfeitamente admissível, tendo em vista as crenças daqueles dias. Na maioria das culturas, as várias divindades eram associadas a fenômenos da natureza, fossem eles desejáveis, como chuva e sol em proporções adequadas à agricultura, ou temidos, como inundações, secas, terremotos, ou como o vulcanismo, que fez desaparecer a população de Tera e, quem sabe, tenha dado origem à lenda de Atlântida.   

(1) Hoje chamada Santorini.
(2) Estrabão nasceu por volta de 63 a.C., muito tempo depois da famosa erupção em Tera. Portanto, só podia falar daquilo que ouvira contar pelos que haviam vivido antes dele. Apesar disso, suas considerações, neste caso, não são destituídas de sentido.
(3) Geografia, Livro I.
(4) Chamado Netuno pelos romanos. 


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