quarta-feira, 27 de abril de 2016

Bartolomeu Lourenço queria voar

Gusmão achou, em pleno século XVIII, que poderia voar. Viu vantagens estratégicas nisso: a falta de informações, causa de muitas derrotas em campos de batalha, já não seria um problema, se um balão de ar quente fosse aos ares e voltasse com rapidez. Mas esbarrou na incredulidade de seu tempo quanto à invenção e, como é óbvio, na falta de condições tecnológicas para implementá-la. Não foi o único. Entre os Séculos XV e XVI, Da Vinci planejou máquinas voadoras que tiveram que aguardar até o século XX para saltar dos projetos à realidade.
Nascido em Santos em 1685, Bartolomeu Lourenço de Gusmão é celebrado pela invenção do aeróstato, mas esse não foi seu único invento, ainda que seja o mais famoso. A "passarola", em si, não passou de fantasia, já que vários de seus projetos "de verdade" estavam relacionados à construção de balões que, com a adaptação de algum método de aquecimento do ar, eram capazes de elevar-se do solo. 
 A maior parte de sua carreira de peripécias transcorreu em solo europeu, onde acabou morrendo quando não tinha ainda quarenta anos. Foi, mesmo em vida, reconhecido com um gênio, mas, justamente por isso, teve de enfrentar uma quota generosa de problemas, sendo quase desnecessário explicar que um indivíduo que pretendia "contrariar a natureza", inventando alguma coisa que chegasse a colocar humanos em voo, andava sempre sob a vigilância da Inquisição - que novidade!...
A Nobiliarchia Paulistana faz, de passagem, referência a Gusmão, nestes termos, ao tratar da genealogia de sua mãe, Dona Maria Alves: "[...] o afamado padre Dr. Bartolomeu Lourenço, por alcunha o voador..."
"Padre voador". Sem dúvida, caiu-lhe bem o apelido.


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2 comentários:

  1. Adoro. Saramago faz-lhe uma bela homenagem no Memorial do Convento.
    Sou grata a todos esses engenhosos que me permitem hoje desbravar mundo com mais facilidade.
    Abraço
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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    Respostas
    1. Hmmm, acho que em Memorial do Convento o padre voador acabou, sim, por criar um terrível problema para Blimunda e Sete-Sóis... Já na "vida real", a ideia dele era ótima, mas esbarrava na falta de condições técnicas. Os humanos precisaram esperar um bom tempo para voar de verdade.

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