Na noite do dia 19 de março quase todo mundo andou com o nariz espetado no céu, por conta do maior diâmetro aparente da Lua em dezoito anos. Até gente que nunca se interessa por fenômenos astronômicos tentou observar a Lua, ainda que só por curiosidade ou para não aparentar desinformação. Eu, como muitos outros, tive sérios problemas com as nuvens... Com isso, o melhor momento, quando nosso brilhante satélite "nasce", tornou-se inviável. Mais tarde, foi possível, e embora a parte mais interessante estivesse perdida, ainda assim foi um belo espetáculo.
Não há quem desconheça o fato de que, desde tempos remotos, os humanos olham o céu com admiração. Os incontáveis pontinhos luminosos avistados à noite, nos séculos em que a iluminação das cidades era inexistente, levaram a imaginação a voar, agrupando as estrelas em constelações. Hoje os nomes desses agrupamentos (Ursa, Cisne, Cruzeiro, Cão, Escorpião, Boieiro, Órion e por aí vai) parecem um pouco estranhos ao nosso universo habitual de símbolos, mas eram seguramente nomes muito evidentes para as pessoas e culturas de outras épocas.
Entretanto, leitor, nem sempre olhar e investigar o céu foi coisa tida como normal, honrosa e bem reputada. Já houve ocasiões em que, no mínimo, meter-se com assuntos celestes era, aos olhos das "pessoas normais", sinal claro de falta de juízo (sem falar nos distraídos, que viviam "no mundo da lua"), quando não se condenavam as pesquisas por, aparentemente, introduzirem heresias que ameaçavam perturbar a paz da cristandade. Ora, o curioso disso tudo é que tolices da astrologia que eram, então, consideradas parte da astronomia, não era questionadas, antes eram tidas como autêntica ciência, enquanto que investigações sérias que apontavam, por exemplo, a existência de irregularidades na superfície lunar, eram vistas como perigosas por questionarem a crença na "perfeição" dos corpos celestes. Se considerarmos os obstáculos que cérebros pensantes do passado como Copérnico, Kepler, G. Bruno ou Galileu e muitos outros enfrentaram na busca por conhecimento autenticamente científico (como hoje o entendemos), chega a ser quase inacreditável que a humanidade tenha, finalmente, superado essa fase de obscurantismo que se afirmava em nome de crenças há muito estabelecidas mas, nem por isso, verdadeiras. Hoje bisbilhotamos o céu como queremos e chegamos a desenvolver o hábito de considerar certas liberdades de que desfrutamos como óbvias, mas é certo que nem sempre foram tão óbvias assim e, não o são ainda em muitos lugares, leitor - aqui da Terra mesmo, infelizmente, e não em algum outro planeta.
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