Retratadas por Debret, algumas moedas que circularam no Brasil, do Período Colonial ao início do Império (¹) |
Uma das razões que faziam com que colonizadores da Capitania de São Vicente fossem fascinados pela nomeação para um cargo público é que o salário era pago em dinheiro, moeda viva e contada do Reino. A administração do cofre pertencente ao Juizado de Órfãos era, por razão semelhante, objeto da cobiça nas povoações coloniais.
O governo português não conseguia sanar o problema da escassez de dinheiro; medidas que alteravam o valor nominal das moedas existentes acirravam os ânimos dos colonos e fermentavam rebeliões.
O próprio governo colonial tinha dificuldade em fazer pagamentos em dinheiro. Em 1576, ao autorizar a fundação de um Colégio Jesuíta em Olinda, El-Rei determinou que fosse paga, para sustento dos padres, a quantia anual de quatrocentos mil réis. Logo, porém, a dotação sofreu mudança:
"Faz El-Rei nosso senhor esmola ao colégio de Nossa Senhora da Graça, da Companhia de Jesus, da vila de Olinda, de oitocentas arrobas de açúcar branco e cem arrobas de açúcar de somenos, e não há de haver mais os quatrocentos mil réis conteúdos neste Regimento, como mais largamente é declarado na Carta de Doação [...]." (²)
O que se vê é que a própria administração colonial recebia em espécie os impostos pagos pelos proprietários de engenhos de açúcar, daí porque repassava a "esmola" de El-Rei aos jesuítas também em espécie, e não em dinheiro amoedado. Aos jesuítas competia, pois, negociar o açúcar recebido como mais conviesse, para assegurar a manutenção dos religiosos que administravam o Colégio de Olinda.
Na rotina diária, o que acontecia entre a população é que, pela falta de moeda corrente, as trocas eram feitas em mercadorias, e, dentre elas, alguma acabava "eleita", temporariamente, como tosco equivalente universal, sendo o açúcar um dos exemplos mais comuns em todo o Brasil. Um caso bastante curioso parece ter ocorrido no Pará, segundo relatou o cônego Francisco Bernardino de Sousa em suas Lembranças e Curiosidades do Vale do Amazonas, afirmando que só em 1749 as moedas oficiais começaram a circular em Belém: "Até então o dinheiro que havia em circulação era novelos de algodão e outros gêneros, que tinham valores determinados." (³)
(1) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 2. Paris: Firmin Didot Frères, 1835. O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) Cf. MORAES, Alexandre José de Mello. Crônica Geral do Brasil vol. 1. Rio de Janeiro: Garnier, 1886, p. 100.
(3) SOUSA, Francisco Bernardino de. Lembranças e Curiosidades do Vale do Amazonas. Belém do Pará: Typ. do Futuro, 1873, p. 53.
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