domingo, 20 de novembro de 2011

Mercadorias que eram contrabandeadas do norte da África no Século XVI

Quem acha que o Tratado de Tordesilhas resolveu todas as questões sobre a posse de terras descobertas por navegadores a serviço de Espanha e Portugal está certamente enganado. Nem sequer havia certeza sobre o ponto de onde deveriam ser contadas as terras de um e outro reino e, em consequência disso, o comércio e mais atividades que se empreendiam por via marítima no século XVI eram, em grande parte, regidos pela lei daquele que, em dada circunstância, estivesse em maior número e com melhores armas.
Na edição de Marburg de
Zwei Reisen nach Brasilien 
esta gravura
ilustra o episódio da captura do

navio contrabandista no norte da África
Há um episódio relatado por Hans Staden (*) que ilustra bem este ponto. Conta que, tendo iniciado sua primeira viagem a partir de Lisboa, foram, ele e os demais de seu navio, inicialmente ao arquipélago da Madeira e, depois, à costa da África. Cabe aqui explicar que o alemão havia se alistado como artilheiro em uma embarcação portuguesa que devia reprimir o comércio de não-portugueses com os mouros do norte da África, além do contrabando, principalmente de pau-brasil, por parte de navios franceses que vinham à América.
Pois bem, foi no norte da África que encontraram um navio a fazer comércio com os chamados mouros e, tendo-o abordado, puseram em fuga os tripulantes, assim como os mouros que, de terra, queriam defender seus parceiros de negócios. Constatou-se então que os proprietários da embarcação "contrabandista" eram, ao menos em parte, de origem espanhola. O que mais nos interessa, porém, é a lista apresentada por Hans Staden das mercadorias que levavam, o que serve para nos dar uma excelente ideia quanto a que coisas eram consideradas valiosas o bastante nesse tempo para que se corresse o risco de um confronto que poria tudo a perder, como aliás, ocorreu neste caso.
Menciona ele que o navio capturado transportava tâmaras, amêndoas, goma arábica, couros de cabra e açúcar, carga que foi deixada na Ilha da Madeira enquanto o navio português, no qual Hans Staden era artilheiro, seguia viagem rumo ao Brasil, não porque se quisesse, mas porque, como ele próprio diz, um vento muito forte, que soprou à noite pela véspera de Todos os Santos (que é 1º de novembro), os empurrou, levando-os rumo a Pernambuco. Terrível a situação desses navegadores do século XVI, quando apenas se sabia aonde se queria ir, sem nunca ter certeza de onde de fato se ia chegar.

(*) STADEN, Hans. Zwei Reisen nach Brasilien. Marburg: 1557.


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