Na fábula, toda gente sabe, a formiga é retratada como exemplo supremo de dedicação ao trabalho, enquanto a cigarra não passa de vil preguiçosa. Afinal, nada mais faz que cantar!
Contudo, nunca se viu um batalhão de cigarras a devorar plantações, ou a invadir casas à procura de doces, nem mesmo a picar, dolorosamente, algum humano que, incauto, se aproxima. Já as formigas...
Foi em São Paulo, no ano de 1815. Em uma ata da Câmara, datada de 13 de setembro, registrou-se:
"Aos treze de setembro de mil oitocentos e quinze nesta cidade de São Paulo e casas da Câmara [...] onde foram vindos o doutor juiz de fora presidente João Gomes de Campos e mais oficiais da Câmara para efeito de fazerem vereança [...] despachou-se o expediente e determinaram ao atual procurador da Câmara mande tirar os olhos de formigueiros que se acham em um formigueiro já tirado, e mostrando não haver mais indícios de formigueiro, mande tapar o buraco." (¹)
Ora, meus leitores, já podemos extrair daí uma primeira conclusão: as formigas de São Paulo eram persistentes e não demostravam a mais leve disposição em abandonar o lugar em que viviam. A segunda conclusão é que pareciam estar à vontade em plena rua. Terceira, o formigueiro devia ser enorme, coisa que se deduz da ordem para, depois da sua extinção, mandar "tapar o buraco", uma providência tanto mais necessária quanto o incômodo alojamento de insetos se encontrava em via pública.
Mas não parou nisso a questão. No mesmo mês e ano, outra ata, desta vez do dia 20, dizia: "[...] foi representado pelo procurador deste Concelho que se tapasse o formigueiro da Rua do Jogo da Bola (²), e determinaram que se tapasse tão somente o que fosse bastante para a servidão do povo (³) [...]". Podem ser imaginadas as dimensões daquela fortaleza de formigas! Fica a dúvida: estariam os senhores vereadores pactuando com as himenópteras, ou já andavam tão cansados de mandar extinguir formigueiros, que simplesmente admitiam a feitura apenas parcial do trabalho de eliminá-los?
Contudo, nunca se viu um batalhão de cigarras a devorar plantações, ou a invadir casas à procura de doces, nem mesmo a picar, dolorosamente, algum humano que, incauto, se aproxima. Já as formigas...
Foi em São Paulo, no ano de 1815. Em uma ata da Câmara, datada de 13 de setembro, registrou-se:
"Aos treze de setembro de mil oitocentos e quinze nesta cidade de São Paulo e casas da Câmara [...] onde foram vindos o doutor juiz de fora presidente João Gomes de Campos e mais oficiais da Câmara para efeito de fazerem vereança [...] despachou-se o expediente e determinaram ao atual procurador da Câmara mande tirar os olhos de formigueiros que se acham em um formigueiro já tirado, e mostrando não haver mais indícios de formigueiro, mande tapar o buraco." (¹)
Ora, meus leitores, já podemos extrair daí uma primeira conclusão: as formigas de São Paulo eram persistentes e não demostravam a mais leve disposição em abandonar o lugar em que viviam. A segunda conclusão é que pareciam estar à vontade em plena rua. Terceira, o formigueiro devia ser enorme, coisa que se deduz da ordem para, depois da sua extinção, mandar "tapar o buraco", uma providência tanto mais necessária quanto o incômodo alojamento de insetos se encontrava em via pública.
Mas não parou nisso a questão. No mesmo mês e ano, outra ata, desta vez do dia 20, dizia: "[...] foi representado pelo procurador deste Concelho que se tapasse o formigueiro da Rua do Jogo da Bola (²), e determinaram que se tapasse tão somente o que fosse bastante para a servidão do povo (³) [...]". Podem ser imaginadas as dimensões daquela fortaleza de formigas! Fica a dúvida: estariam os senhores vereadores pactuando com as himenópteras, ou já andavam tão cansados de mandar extinguir formigueiros, que simplesmente admitiam a feitura apenas parcial do trabalho de eliminá-los?
Ainda em 1815, uma ata do dia 21 de outubro trazia: "[...] Assim mais determinaram ao mesmo procurador que mandasse tirar um formigueiro que se acha na rua detrás do Carmo, contíguo às casinhas da Ordem Terceira do Carmo". Recordem-se, amigos leitores, de que muitas ruas, nesse tempo, em quase todas as localidades, não tinham calçamento. Eram de terra batida, não sendo, pois, surpreendente, que formigas achassem interessante ter nelas seu lar. Desde o início da colonização, europeus que vinham à América do Sul se espantavam com a quantidade e variedade de formigas. A referência a grandes formigueiros em diferentes pontos de São Paulo sugere que estavam por toda parte, com as consequências que daí podem ser facilmente extraídas.
São passados mais de duzentos anos desde que esses registros da Câmara de São Paulo foram escritos. Em áreas urbanas será difícil encontrar formigueiros nas ruas, é certo, mas não se pode ter tanta convicção quanto aos quintais e jardins. Afinal, quem terá vencido a batalha? Olhem ao redor, leitores, onde quer que vocês residam, e deem seu veredito.
São passados mais de duzentos anos desde que esses registros da Câmara de São Paulo foram escritos. Em áreas urbanas será difícil encontrar formigueiros nas ruas, é certo, mas não se pode ter tanta convicção quanto aos quintais e jardins. Afinal, quem terá vencido a batalha? Olhem ao redor, leitores, onde quer que vocês residam, e deem seu veredito.
(1) Os trechos de atas da Câmara de São Paulo aqui citados foram, para facilitar a leitura, transcritos na ortografia atual, com a adição da pontuação indispensável.
(2) Nome interessante para essa via pública, revelando algo dos costumes da época. Posteriormente a Câmara deu ordem para que os lugares deste e de outros formigueiros fossem devidamente aterrados.
(3) A expressão "servidão do povo" tinha o sentido de utilidade pública.
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Que interessante. Hoje em dia o que mais temos nas repartições das prefeituras de todo o Brasil são pedidos de vereadores para que o Poder Público promova, em vias urgentes, a afamada operação "tapa buracos" nas mais diversas vias dos municípios brasileiros. Os tapa-formigueiros na via pública não são muito usuais agora, não estão mais em voga. Mas, foi bom ter resgatado esse episódio de antanho! Parabéns pela crônica histórica.
ResponderExcluirOlá, Sophia, boa noite! Obrigada por visitar este blog e deixar seu comentário. É como você concluiu, cada época tem seus problemas - formigueiros, no passado, buracos no asfalto, hoje. Tenho alguma curiosidade em saber como serão os problemas dentro de uns vinte anos, ou trinta, ou cinquenta... Mas aí é só imaginação, mesmo.
ExcluirÉ curioso que, por aqui, muitas lendas da formação de povoados referem que, devido a uma invasão de formigas, foi decidido estabelecer a povoação num novo local.
ResponderExcluirNão me parece que seja apenas lenda.
UM bo resto de terça-feira, Marta :)
Decididamente, não parece mesmo. Na próxima quinta-feira o post será sobre as saúvas, que, dentre as formigas do Brasil, são as que mais danos causam à agricultura. Há um lugar aqui perto, por onde passo quando vou fazer uma caminhada, em que há um formigueiro digno de um prêmio pela arquitetura.
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