quinta-feira, 7 de julho de 2022

Tática de terra arrasada na luta pelo Nordeste açucareiro

Em uma guerra, destruir tudo o que pode ser útil ao inimigo é, quase sempre, uma atitude desesperada, tática extrema quando nada mais parece funcionar.
Foi no ano de 1635, após a Paraíba ter passado ao controle dos holandeses, a quem a resistência luso-brasileira tentava expulsar do Brasil, desde que haviam ocupado parte de Pernambuco em 1630. Percebendo que o desânimo tomava conta dos seus já pouco numerosos subordinados, o general Matias de Albuquerque decidiu que, se não fosse possível vencer, nada seria deixado à Companhia das Índias Ocidentais. Principalmente, não haveria pilhagem do cobiçado açúcar do Nordeste, razão maior da invasão a Pernambuco. Ao dar ordens a um de seus comandados, recomendou que "quando não fosse possível lutar, [...], que se queimassem todos os canaviais de açúcar e todo o pau-brasil, e se desfizessem todas as plantações, para que o inimigo de nada se aproveitasse [...]" (¹).
A desproporção entre as forças beligerantes era acentuada. Os reforços vindos da Europa para os holandeses eram muito superiores àqueles que a Coroa espanhola (²), com reduzido empenho, enviava ao Brasil. Não se podia esperar que senhores de engenho, lavradores de cana, indígenas e escravos sem qualquer treinamento militar formal, se comportassem como hábeis soldados. Assim, pouco a pouco, mesmo alguns que apoiavam a resistência começaram a abandonar a luta, julgando que, afinal, se fosse possível produzir açúcar e lucrar com isso, não importava muito se os senhores da terra seriam os portugueses ou os holandeses. Com oscilações de intensidade, a guerra ainda iria durar quase duas décadas.

(1) COELHO, Duarte de Albuquerque. Memorias Diarias de la Guerra del Brasil. Madrid: Diego Diaz de la Carrera, Impressor del Reyno, 1654. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(2) Ainda estava em vigor a chamada União Ibérica (1580 - 1640). 


Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.