Uma economia pastoril, com o correspondente estilo de vida, foi praticada por muitos grupos nômades na Antiguidade. A sedentarização gradual conduziu à inserção dos rebanhos e seus condutores no contexto de comunidades urbanas.
Com o objetivo de inibir confrontos entre agricultores e pastores, o Código de Hamurabi (c. 1750 a.C.) determinava que aqueles que tinham rebanhos eram obrigados a indenizar proprietários de plantações que, eventualmente, fossem danificadas por animais. O Código disciplinava, também, as relações entre pastores assalariados e seus patrões, os proprietários de rebanhos, através de leis que podem ser assim sistematizadas:
1. Circunstâncias em que os pastores estavam obrigados a compensar os proprietários de quem recebiam um salário:
- Se matassem algum animal intencionalmente (para comer);
- Se, por sua negligência, o rebanho diminuísse ou o número de nascimentos, que deveria fazer crescer o rebanho, não fosse satisfatório;
- Se algum acidente evitável, ainda que dentro do estábulo, resultasse em perda de animais.
2. Dano intencional ao patrimônio de um proprietário de rebanho, causado por trabalhador assalariado:
- Se um pastor cometesse alguma fraude que resultasse em perda do rebanho ou de parte dele, ou se vendesse os animais sob seu cuidado, estava obrigado a pagar ao proprietário dez vezes (!!!) o valor estimado do prejuízo que causara.
3. Situações em que um pastor estava isento de penalidade:
- Se um acidente inevitável - a lei sugere que por obra de algum deus (¹) - atingia o rebanho, o pastor devia jurar diante daquele deus (²) que era inocente, e não seria obrigado a compensar o proprietário;
- Um pastor era também considerado sem culpa e, portanto, desobrigado de qualquer ressarcimento, se um animal sob seu cuidado fosse morto e/ou devorado por um animal selvagem.
Então, leitores, podemos disso extrair ao menos três conclusões. A primeira delas é que, embora houvesse ênfase na criação de ovelhas, as leis eram aplicáveis também para quem cuidava de caprinos e bovinos; a segunda, sugerida pela quantidade de regulamentos associados ao pastoreio, é que a pecuária tinha muita importância nesse tempo, mesmo para comunidades sedentárias; finalmente, como as leis faziam referência a trabalhadores assalariados para o cuidado dos rebanhos, eles deviam ser a maioria nessa atividade, sem exclusão, no entanto, do emprego de mão de obra escrava, talvez em caráter auxiliar.
(1) Na Antiguidade havia deuses associados a diferentes fenômenos, tais como tempestades, fogo, etc.
(2) Diante dos juízes ou talvez no templo correspondente.
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