segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Primeiros experimentos fotográficos no Brasil

Há referências que apontam para o fato de que o desenhista francês, estabelecido no Brasil, Hércules Florence, teria sido o primeiro a fazer experimentos fotográficos nestas terras do Continente Americano. Não somente isto, há quem assevere que seus experimentos lhe dariam a primazia também no mundo. Oficialmente, os primeiros experimentos fotográficos reconhecidos datam de 1827, havendo, de 1835, o negativo mais antigo (ao que se sabe), obra de W. H. Fox Talbot.
As experiências não cessaram: Louis Daguerre obteve em 1837 o seu "daguerreótipo", que só levou a público dois anos mais tarde. Vale lembrar que os processos de Fox Talbot e de Daguerre ficaram conhecidos, respectivamente, como calotipia e daguerreotipia (fotografia, afinal, é bem mais fácil, e significa, simplesmente, "escrever com a luz").
Mas vamos adiante. Em 1851 apareceria o processo, dentre os "antigos", que considero de resultados mais bonitos, cujo nome é método do colódio úmido. Era obtido mediante um negativo que resultava de um banho de colódio e sais de prata sobre uma placa de vidro.
Conta Machado de Assis que um padre, viajando em uma embarcação francesa, fez demonstrações de fotografia no Rio de Janeiro, no início de 1840:
"Há vinte e quatro anos, em janeiro de 1840, chegou ao nosso porto uma corveta francesa, L'Orientale, trazendo a bordo um padre de nome Combes.
Este padre trazia consigo uma máquina fotográfica. Era a primeira que aparecia na nossa terra. O padre foi à hospedaria Pharoux, e dali, na manhã do dia 16 de janeiro, reproduziu três vistas - o largo do Paço, a praça do mercado e o mosteiro de São Bento.
Três dias depois, tendo Sua Majestade aceitado o convite de assistir às experiências do milagroso aparelho, o padre Combes, acompanhado do comandante da corveta, foi a São Cristóvão, e ali se fez nova experiência; em 9 minutos foi reproduzida a fachada do Paço, tomada de uma das janelas do torreão.
É isto o que referem as gazetas do tempo." (¹)


Paço Imperial, fotografia de Victor Frond, 1861 (³)

Nove minutos? É isso mesmo. Os primeiros processos fotográficos exigiam longas exposições, sendo, portanto, impróprios para retratos. O gradual aperfeiçoamento das técnicas fotográficas acabou com esse problema e fez do ato de tirar retratos uma verdadeira mania. Prova disso é que o mesmo Machado de Assis, em 1864 (portanto, menos de um quarto de século após a primeira "demonstração" do padre Combes), dizia haver no Rio de Janeiro umas trinta "oficinas fotográficas" (²). Não era pouco para a época.


(1) DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, "Ao Acaso", 7 de agosto de 1864.
(2) Ibid.
(3) RIBEYROLLES, Charles. Brazil Pittoresco. Paris: Lemercier, 1861. O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


Veja também:

2 comentários:

  1. Nove minutos seria uma tortura para as selfies, hehe. Imagina que sensação terá provocado na altura!? E rapidamente virou moda... Aprendo sempre muito por aqui, Marta.
    Beijinho, uma linda semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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    Respostas
    1. Pode parecer estranho, mas não muito depois do começo da fotografia, já havia selfies. Os próprios fotógrafos-inventores ajustavam suas câmeras e, então, ficavam sentados diante delas, a pleno sol, pelo tempo necessário para que fosse obtida uma imagem. O que o ego não é capaz de fazer...

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