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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Sobre barquinhos de papel e grandes navegações

Um dia desses, um menino de mais ou menos três anos veio na minha direção com uma folha de papel e pediu que eu fizesse um barquinho. Leitores, fiquei preocupada. Não tinha certeza de que ainda me lembrava de todas as dobras necessárias, mas, para não decepcionar o guri, peguei a folha e, disfarçando a indecisão, comecei a trabalhar.
Ufa!... Tudo saiu bem, mas o melhor foi ver, no momento da última dobra, que o rostinho do menino se iluminava. Talvez, para ele, fosse algo como mágica que a folha de papel virasse um barquinho. E lá se foi correndo, todo feliz, para lançar seu transatlântico nas águas revoltas da piscina.
Lembram-se daquelas bússolas que fazíamos na escola quando tínhamos uns oito ou nove anos? Uma vasilha com água, uma rolha, uma agulha friccionada em um imã - o mais incrível é que, toscamente, sempre funcionava. Os chineses afirmam que a primazia desse invento pertence a eles, como, de resto, afirmam em relação a quase tudo o que existe. O caso é que não poucos historiadores estão de acordo quanto à bússola ser invenção de algum lugar do Oriente, tendo chegado à Europa pela mão dos cruzados que voltavam da guerra. Como veem, é prudente reconhecer que, com absoluta certeza, não há quem saiba dizer quem foi o pai da criança, digo, desse invento que, devidamente aperfeiçoado, foi decisivo para libertar a humanidade da navegação de cabotagem. 
Não se deve imaginar que grandes navegações somente ocorreram depois da invenção da bússola, mas, até então, era preciso, por segurança, ir costeando o litoral. Cada vez que a coragem era maior que o medo, navegadores iam um pouco mais longe, o conhecimento aumentava e os desenhos rústicos que faziam do caminho seguido eram tratados como segredo de Estado. Foi assim desde a Antiguidade: segundo Heródoto (sempre ele...), marinheiros fenícios, a mando de um faraó, teriam contornado a África, saindo pelo Mar Vermelho e retornando pelo Mediterrâneo. Se isso for verdade, esse périplo africano deve ter acontecido mais de seiscentos anos antes de Cristo.
Mas sempre era navegação de cabotagem. Ir mais longe seria arriscadíssimo, ainda que técnicas de orientação baseadas na posição do sol e das estrelas estivessem, aos poucos, disponíveis. O que aconteceria, porém, com vários dias de tempo nublado? (*) A invenção da bússola, do astrolábio e, mais tarde, do sextante e de outros instrumentos náuticos, permitiu navegação sem as incertezas dos velhos tempos. O mar ainda era (e é) perigoso, tem lá suas surpresas nem sempre muito agradáveis, mas em tempo relativamente curto não sobrou, para ocupação dos descobridores, nenhuma terra desconhecida neste planeta. A solução para o tédio foi começar a exploração do espaço sideral.

(*) Esse era um dos grandes medos entre os navegantes da Antiguidade. Corria-se o risco de ficar em meio ao mar agitado, sem saber exatamente onde é que a embarcação estava. Não foram poucos os marinheiros que perderam a vida nessas circunstâncias. 


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