Dias atrás assisti pela TV a uma partida de futebol na qual uma auxiliar da arbitragem (a "bandeirinha") era sistematicamente hostilizada por torcedores de uma das equipes. Motivo? A marcação de impedimentos sucessivos de um atacante.
Acontece que a auxiliar estava sempre certa - o atacante, esse sim, precisa ter mais atenção aos companheiros e à defesa adversária, se quiser ser útil à sua equipe, mas a torcida, como toda torcida, dificilmente reconhecerá esse fato. A culpa, como é costume, era sempre creditada à digna árbitra auxiliar que, impassível, com uma serenidade de dar inveja ao Mahatma Gandhi, prosseguia em seu trabalho, a despeito das contínuas imprecações até contra a sua milésima ancestralidade.
Pois bem, meus leitores, essa assistente parece ter tido, no Brasil, uma predecessora em tempos bem remotos, pelo menos em termos de futebol. A edição de primeiro de dezembro de 1922 da revista paulistana A Cigarra trouxe esta notícia:
Diz a legenda: "No Rio, uma senhora serviu de juiz em um prélio de futebol" (dos jornais). O jogo pesado será um mito... Teremos, em pouco tempo, uma luta de... gentilezas."
À parte o gracejo da revista, é fato que, em 1922, muita gente no Brasil ainda achava que a prática de esportes devia ser restrita aos homens, em especial quando se tratava de dar chutes em uma bola. Infelizmente a revista não mencionou o nome da juíza e nem o "match" que ela arbitrou, mas podemos nos perguntar que tipo de uniforme teria ela usado - os juízes da época costumavam apresentar-se irrepreensíveis em paletó e gravata, sem esquecer do chapéu, é claro.
Resta dizer, no entanto, que se a década de vinte (do século XX) viu o futebol explodir em popularidade no Brasil, foi também porque, na época, futebol era, sim, coisa de mulher, ao menos nas arquibancadas. Fotos da época mostram que a plateia dividia-se quase igualmente entre homens e mulheres, todos bem vestidos e igualmente bem comportados, principalmente as torcedoras que, se não iam aos modestos estádios vestindo a camisa do time preferido, costumavam trajar vestidos com as cores da equipe que apoiavam, equipes que provavelmente tinham atletas que se destacavam não apenas pelos atributos essencialmente futebolísticos. Para quem duvida disso, recomendo a leitura das seguintes postagens: "O jogador de futebol ideal" e "Futebol no Brasil no início do Século XX - Os torcedores".
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