terça-feira, 12 de outubro de 2010

Registrando os sons - Parte 4: A evolução dos discos

"- Aí tens tu, o fonógrafo!... Só o fonógrafo, Zé Fernandes, me faz verdadeiramente sentir a minha superioridade de ser pensante e me separa do bicho. Acredita, não há senão a Cidade, Zé Fernandes, não há senão a Cidade!"
Eça de Queirós, A Cidade e as Serras

A maioria de nós sorri diante dessa fala de Jacinto, mas não nos esqueçamos do contexto: a era da segunda revolução industrial fazia crer a muitos em uma espécie de redenção do mundo e da humanidade pela tecnologia. Nós, que vivemos mais de um século depois, bem sabemos que não é assim...
Em Registrando os Sons - Parte 1: Fonógrafos e Gramofones, mencionei o fato de que os primeiros aparelhos a reproduzirem sons gravados usavam cilindros, e não discos. Entretanto, foi o "padrão disco" que veio a estabelecer-se na indústria, uma vez que o produto final era mais durável que os cilindros, mais fácil de manejar e permitia, principalmente, um tempo maior de gravação.
Esses discos que podiam ser tocados nos gramofones e em outros aparelhos que mais tarde vieram a ser desenvolvidos, tinham um ciclo de 78 rotações por minuto (RPM), sendo geralmente fabricados em goma-laca, o que exigia um certo cuidado no manuseio, ou seja, se caíssem no chão, com certeza se quebrariam. Apesar de ter um tempo de gravação possível bem maior que o dos cilindros, ainda assim, se fosse necessário gravar, por exemplo, uma sinfonia, seriam necessários vários discos, formando um verdadeiro álbum, o que contribuía para encarecer bastante o produto final. A despeito disso, continuaram por várias décadas como padrão, até que em 1948 os long plays (LPs) ocuparam seu lugar.
Fabricados em vinil, os LPs possibilitavam tempos muito superiores de gravação, com menos ruído e ótima resistência - as sinfonias podiam agora ser reproduzidas em um único disco. Por essas razões, rapidamente ganharam a preferência do público, pelo menos até o surgimento dos compact discs, ou CDs. O registro do invento do CD data de 1979, mas a fabricação em escala comercial só viria a ocorrer na década seguinte.
Conheço pessoas, no entanto, que ainda preferem os discos de vinil, sob a alegação de que os CDs, com a eliminação dos ruídos, eliminaram também partes importantes dos sons originais, que um ouvido treinado normalmente consegue perceber. A mim, porém, isso parece saudosismo. Tenho ainda alguns LPs, mas apenas para aquelas gravações inesquecíveis, das quais nunca encontrei um CD correspondente.
Apenas quero mencionar ainda o aparecimento, em 1963, das fitas cassete. Elas constituem um aspecto importante na história dos registros sonoros porque possibilitaram às pessoas comuns a gravação de suas vozes, e isso de um modo bem simples, bastando, para tanto, dispor de um gravador. E, como os gravadores rapidamente tornaram-se portáteis, seu uso difundiu-se nas mais diversas circunstâncias, fazendo com que as fitas gravadas tivessem um papel decisivo em alguns acontecimentos, como foi no caso de Watergate. Aqui no Brasil, os leitores que tiverem pelo menos umas quatro décadas de vida hão de lembrar-se do cacique Mário Juruna, eleito deputado federal pelo Estado do Rio de Janeiro, que chegou a Brasília empunhando um gravador, com o qual pretendia garantir que os direitos da população indígena, uma vez negociados, não fossem esquecidos!


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