quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Árvores antigas, monumentos verdes - Parte 1

Não é muito comum que árvores sejam tema de um blog dedicado à História - você, leitor, talvez pense que isso poderia ser melhor enquadrado em outro lugar. Mas vou mostrar-lhe porque decidi trabalhar esse assunto.

Árvore do Jardim Público de Amparo - SP
Seres humanos erguem monumentos quando querem celebrar algum acontecimento importante ou homenagear alguém. Essa moda não é nova - egípcios e babilônios eram admiradores incondicionais desse hábito, que permanece até hoje, nas mais diversas culturas. Em resumo, um monumento pode ter qualquer das formas convencionais (obelisco, estela, arco de triunfo, etc.), ou ainda não ser nada convencional, mas quase sempre será um tributo aos grandes feitos de um povo ou de um indivíduo, mal conseguindo disfarçar a boa dose de vaidade que levou à sua construção, e isso vale até para os  "monumentos funerários", comumente chamados túmulos, salientando que não há aqui qualquer desrespeito, é mera constatação.
Com as árvores é (quase sempre) diferente (estou desconsiderando aqui, por exemplo, aquele famoso carvalho que os nazistas teriam plantado em Jaslo, na Polônia, em 20 de abril de 1942, para celebrar o aniversário de A. Hitler). Elas permanecem por muitos anos silenciosamente entre nós, testemunham as gerações que vêm e vão, fazem parte do ambiente em que vivemos, e muitas vezes passamos por elas sem que as notemos. São espécimes vegetais, e só isso.
A árvore precisou ser cortada, mas o tronco foi 
conservado na praça - Ouro Fino, MG
Até que um dia aquela árvore imensa, já bastante envelhecida, isolada em meio urbano, digna sobrevivente de tempos mais verdes, em que árvores cobriam boa parte do terreno das atuais cidades, é ameaçada de corte. Seja porque de fato esteja doente e corra o risco de cair, seja porque a ambição quase incontida das construções veja nela um incômodo obstáculo que precisa ser removido, o certo é que a árvore, quase ignorada, torna-se o centro das atenções, dividindo a opinião pública. O que aconteceu?
Algo em nós parece dizer que ela sobreviveu porque sorrateiramente ultrapassou o muro que divide a chamada História Natural, que é campo das Ciências Biológicas, e veio fazer parte da história de nossa própria comunidade. Afinal, pode ter estado naquela praça em que, por décadas, a criançada, ao deixar o colégio, sempre veio brincar, pode ter sido ponto de encontro para os mais diversos propósitos. Já não é, portanto, simplesmente em razão de preocupações ambientais que não queremos que seja cortada, pois se fosse isso, bastaria plantar várias outras em um local próximo. Perdoe-me a heresia leitor, se assim considera esta minha ideia, mas vejo árvores assim como monumentos verdes. E com a virtude de (como sempre, quase sempre), não andarem a perpetuar a vaidade de alguém que há muito desapareceu.

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