Minha postagem anterior ("Quem se Importa com Animais e Escravos que Fugiram?") causou certo impacto em alguns leitores. Compreende-se. É chocante verificar o quanto a escravidão, aparentemente tão distante e, ao mesmo tempo, tão perto de nós, pode bestializar os seres humanos (e, nesse caso, trato especificamente de muitos dos homens livres), fazendo crer que o fato de alguém declarar-se proprietário da vida de outro alguém é coisa perfeitamente normal. O lamentável é que essa mentalidade está longe de ter desaparecido completamente, apresentando desdobramentos julgados impensáveis, mesmo nos dias atuais. Entretanto, a bem da parcela mais jovem que acessa este blog, assinalarei alguns aspectos que faziam o mundo da virada do século XIX para o XX tão diferente deste em que vivemos, no início do século XXI.
1. Não deve espantar a ninguém que mulas, cavalos e burros circulassem livremente na cidade de São Paulo em 1867, já que o automóvel, como o conhecemos, é invenção de cerca de 1885, tendo sua produção em série começado só em 1908, nos Estados Unidos. Portanto, leitor, é óbvio que equinos e muares tinham, na época, emprego garantido. Foi apenas em 1872 que São Paulo passou a contar com bondes... Puxados por burros!
1. Não deve espantar a ninguém que mulas, cavalos e burros circulassem livremente na cidade de São Paulo em 1867, já que o automóvel, como o conhecemos, é invenção de cerca de 1885, tendo sua produção em série começado só em 1908, nos Estados Unidos. Portanto, leitor, é óbvio que equinos e muares tinham, na época, emprego garantido. Foi apenas em 1872 que São Paulo passou a contar com bondes... Puxados por burros!
2. A limpeza pública de fins do Século XIX e início do XX encontrava importantes auxiliares nas saias das senhoras que, gratuitamente, ajudavam a varrer as ruas. Fique sabendo, leitor, que para confeccionar tais peças de vestuário eram necessários vários metros de tecido. O uso de calças pelas mulheres estava ainda distante, embora na França, por exemplo, a legislação autorizasse seu uso para aquelas que montavam ou pedalavam. A popularização de calças para mulheres ocorreu, efetivamente, após a Segunda Guerra Mundial, por obra, em grande parte, do que se via nas telas dos cinemas.
3. Pergunte aos seus parentes mais idosos e eles confirmarão o que digo: as famílias antigas eram muito numerosas. E como seria diferente? O chamado Método Ogino-Knaus (vulgo "tabelinha") é coisa dos anos vinte do Século XX, e, até que sua divulgação atingisse o grande público, passou-se muito tempo. Pílula anticoncepcional, como experimento viável, surgiu no início dos anos 50. Foi liberada para uso na Alemanha em 1961 e, nos Estados Unidos, popularizou-se ao longo da década de 60.
4. Piadinhas à parte, televisão é coisa mais ou menos recente. Excetuando-se a famosa transmissão da abertura das Olimpíadas de Berlin em 1936, assistir TV é coisa, mesmo nos países mais desenvolvidos, do período pós-Segunda Guerra. Só como curiosidade, a primeira transmissão no Brasil teria ocorrido em 1948 e nela mostrou-se, claro, uma partida de futebol.
5. Para terminar, a Internet, como hoje a entendemos, data dos anos 90, embora usos militares e científicos da rede já tivessem, então, certa quilometragem. Ah, www, só em 1991.
Vê-se que o tal "mundo de hoje" é, sob muitos aspectos, bem diferente do de, quem sabe, cento e poucos anos atrás. Aposto que um eventual visitante do século XIX, que chegasse hoje à Terra (se isso fosse possível), imaginaria, muito provavelmente, estar em outro planeta. Em nenhuma outra época da História humana as mudanças foram tão profundas e, simultaneamente, tão aceleradas. Algumas dessas mudanças foram, por suposto, muito boas, enquanto, outras, nem tanto. Resta saber se nós, como pessoas, ficamos melhores. Julgue você mesmo, leitor.
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