A mentalidade dos colonizadores dificultava a realização de obras públicas muito necessárias
A julgar pelo que escreveu em sua História do Brasil (¹), Frei Vicente do Salvador não tinha em alta conta o que se fazia na Colônia em termos de obras públicas (ou obras feitas com dinheiro público - nem sempre é a mesma coisa). Nascia o problema com o fato de que os colonizadores que vinham à América dita portuguesa não tinham lá grande interesse em desenvolver a Colônia, pensando antes em enriquecer rapidamente para, igualmente rápido, volver ao Reino. Duas citações podem ser úteis para elucidar essa questão, ambas da já mencionada História do Brasil:
a) Buscava-se sempre o bem individual, não o interesse coletivo
"Donde nasce também que nenhum homem nesta terra é repúblico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular."
b) Em consequência, descuidava-se do interesse público
"Pois o que é fontes, pontes, caminhos e outras coisas públicas é uma piedade, porque atendo-se uns aos outros nenhum as faz, ainda que bebam água suja, e se molhem ao passar dos rios, ou se orvalhem pelos caminhos, e tudo isto vem de não tratarem do que há cá de ficar, senão do que hão de levar para o Reino."
Não se esqueçam os leitores que tudo isso era coisa do século XVII...
Para concluir, um exemplo de obra feita com recursos públicos e que nunca era concluída, exemplo dado pelo próprio Frei Vicente do Salvador. Tratava-se de um seminário, cuja construção começara no governo de D. Luís de Sousa (²) e que, pela altura da conclusão do manuscrito da História do Brasil, estava longe de acabar, a despeito dos vultosos recursos nela investidos:
"Fez em seu tempo uma formosa casa contígua com as suas para se fazer nela a Relação, que até então se fazia em casas de aluguel, e porque um seminário que El-Rei havia mandado fazer com renda para quatro órfãos estudarem se havia desfeito, por as casas serem de taipa de terra e caírem, começou outras de pedra e cal, mas nem por ser obra tão pia, nem por deixar já para ela seis mil cruzados consignados, houve quem lhe pusesse mão até agora, e queira Deus que alguma hora o haja."
(1) Supõe-se que o manuscrito estivesse concluído por volta de 1627.
(2) D. Luís de Sousa concluiu seu período de governo na Cidade da Bahia (Salvador) em outubro de 1621.
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