quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Cocos e coqueiros

Coqueiro
Não, senhores e senhoras, o coqueiro (Cocos nucifera) não é nativo do Brasil. Isto os surpreende? Pois fiquem sabendo que portugueses, em suas viagens oceânicas nos Séculos XV e XVI, toparam com coqueiros no Sudeste asiático. Levados para outras regiões, se adaptaram tão bem a algumas delas que até parecem nativos, embora não sejam (¹). Foi o que aconteceu no Brasil. 
Os cocos deviam ser pouco conhecidos na Europa por volta da terceira década do Século XVI, porque Antonio Pigafetta, um italiano que participou da primeira viagem conhecida de circum-navegação, teve o cuidado de descrevê-los minuciosamente nos registros que fez da expedição, para que aqueles a quem pretendia entregar seus escritos tivessem uma ideia correta de como eram os frutos produzidos pelos coqueiros, que atraíram a atenção dos navegadores que acompanharam Fernão de Magalhães nas ilhas por onde passaram, em busca das Molucas (²):
"O fruto do coqueiro tem o tamanho da cabeça de um homem, e pode ser até maior. A parte exterior é verde, tem dois dedos de espessura e é dotada de fibras que servem para se fazer cordas com que [os ilhéus] amarram as embarcações. Há dentro outra casca, mais rígida e grossa que uma casca de noz [...]. Dentro está uma camada branca, de um dedo de espessura, que é comida com carne e peixe, como se fosse pão. [...]" (³) 
Não andou mal o senhor Pigafetta nessa descrição. Concluiu-a fazendo menção à parte que era, talvez, a que mais interessava aos navegadores que viviam enfrentando problemas com a falta do que beber em viagem: "No centro [do coco] há um líquido doce e transparente [...]." Falava, naturalmente, da água de coco, que vai muito bem em dias quentes (⁴). 
A polpa parece ser a parte mais apreciada pelo primatinha da foto que foi incluída aqui, para tornar a postagem mais simpática. Que tal?

Sagui no coqueiro

(1) Há outras palmeiras que crescem muito bem no Brasil, mas que não são nativas. São exemplos a palmeira-imperial (Roystonea oleracea), originária da Jamaica, e a belíssima palmeira-azul (Bismarckia nobilis), de Madagascar. 
(2) A descrição do fruto produzido pelo coqueiro está ligada a acontecimentos de 1521, um pouco antes da batalha em quw Magalhães foi ferido e em consequência da qual morreu. 
(3) Os trechos citados do Diário de Antônio Pigafetta foram traduzidos por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(4) Como hoje, enquanto esta postagem é escrita. 


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