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sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Presságios funestos

Os antigos romanos eram adeptos de supostas previsões do futuro com base no sacrifício de animais que faziam aos deuses. Como os deuses eram numerosos, os sacrifícios também se multiplicavam, e não faltava trabalho aos sacerdotes que oficiavam nos templos que, por razões idênticas, não eram poucos.
Cada divindade tinha seu animal favorito, e quem oferecia uma vítima devia estar ciente disso. Como saber, porém, se o sacrifício fora agradável ao deus homenageado, ou se, por desgraça, o deus ou deusa não ficara satisfeito com o presente?
A resposta vinha, quase sempre, do fogo que queimava o animal oferecido. Fumaça branca, limpa, sem perturbações, significava plena aceitação do sacrifício. Se, porém, a chama era preta e irregular, era sinal de que a divindade não estava feliz. Pobres romanos, que não levavam em conta fatores naturais para explicar o que acontecia.
Todavia, meus leitores, não era apenas para agradar um deus ou deusa que se sacrificava um animal. Era também para previsão do futuro. Um comandante militar, por exemplo, podia oferecer um sacrifício para saber se a batalha que se avizinhava traria vitória ou derrota. Um comerciante, que enviava mercadorias por mar, talvez desejasse saber se o navio chegaria bem ao destino, e, mesmo levando em conta a despesa com o sacrifício, possivelmente julgasse a consulta aos deuses como um investimento. Assim, por precaução, quem sacrificava estaria atento a alguns sinais, que eram considerados presságios funestos, ou seja, desfavoráveis, dentre os quais:
  • O animal que ia ser sacrificado tinha uma morte súbita, antes mesmo de ser abatido (era melhor, portanto, não economizar, oferecendo um animal saudável);
  • O animal, farejando o destino que o aguardava, escapava e desaparecia, recusando-se a virar sacrifício;
  • O animal, ao ser sacrificado, lutava e esperneava tanto quanto podia;
  • Finalmente, se o animal, ao morrer, agonizava horrivelmente, julgava-se que era um aviso da divindade de que o projeto a ser empreendido não teria sucesso. 
Um romano religioso não ousaria contrariar os deuses. Outro romano, menos devoto, podia sacudir os ombros e seguir a vida como ela era. Não houve até quem ousasse lançar no mar os frangos sagrados de Roma?


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