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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Quem costurava as roupas de dona Leopoldina

Desembarque da princesa Leopoldina no Rio de Janeiro (¹)

Durante muito tempo, ou melhor, desde o início da colonização até que viesse ao Brasil a família real portuguesa, as roupas femininas foram, como regra, costuradas em casa da interessada em usá-las, pela própria dona ou por alguma escrava que, por ter o ofício de costureira, era considerada muito valiosa. Havia alfaiates que, além de trajes masculinos, também faziam roupas simples para mulheres, porém, como fornecedores desses artigos, eram exceção.
Mas veio 1808, veio a família real, vieram as mudanças daí decorrentes, vieram as costureiras francesas, as lojas de comerciantes franceses de artigos para vestuário feminino - tecidos, rendas, fitas, e uma infinidade de outras coisas, sempre anunciadas como última moda em Paris. Daí resultaram esquisitices que, adequadas ao inverno europeu, eram, no mínimo, ridículas sob o sol da capital do Império. "Calculem e façam ideia do que custa a moda e a elegância da cidade do Rio de Janeiro!...", exclamou Joaquim Manuel de Macedo, acrescentando: "[...] em cada corte de seda, em cada toalete, em cada xale, chapéu, gravatinha, etc., a compradora paga e deve pagar no seu tanto proporcional, além do valor e lucro do objeto que adquire, o aluguel da casa, e os honorários dos empregados de escritório, dos caixeiros, das modistas, das costureiras, dos serventes e dos criados, e antes de tudo isso os tributos da alfândega, que na verdade são de arrasar!..." (²)
Mas, falando das costureiras e modistas, cada uma era tanto mais famosa quanto fosse de maior prestígio a sua clientela. Qual não seria, então, a fama daquela que costurava para dona Leopoldina, a primeira imperatriz do Brasil? Voltemos a Macedo:
"Mlle. Josephine foi a modista da primeira imperatriz do Brasil, e, portanto, de todas as senhoras da corte, e, portanto, de quantas outras senhoras tinham pais e maridos dispostos a pagar frequentemente a habilidade e a fama da modista, cuja tesoura de imperial predileção cortava cara e desapiedadamente." (³)
Estejam certos, leitores, de que, se vivemos em outros tempos, não deixou de haver alguma correspondência, embora os hábitos e sonhos de consumo sejam outros. Não é verdade que quem presta serviço a alguma celebridade, seja lá para o que for, logo ganha fama e tem uma quantidade enorme de imitadores? Em sua essência, a humanidade continua exatamente a mesma.

(1) Cf. DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 3. Paris: Firmin Didot Frères, 1839. O original pertence à Brasiliana USP. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 
(2) MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias da Rua do Ouvidor.
(3) Ibid.


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