sexta-feira, 13 de maio de 2011

Moedas de troca no comércio de africanos para escravização: Parte 3 - A Macuta

Depois de ler as postagens anteriores sobre mercadorias que eram usadas no comércio realizado na África é possível que você, leitor, venha a interrogar-se se não haveria moedas, como as que hoje conhecemos, empregadas particularmente no tráfico de africanos para escravização. Sim, havia. Há uma obra excelente sobre as moedas portuguesas, em edição do século XIX, mais precisamente de 1856, cujo título é Memória das Moedas Correntes em Portugal, Desde o Tempo dos Romanos Até o Ano de 1856, sendo seu autor Manuel Bernardo L. Fernandes (¹). Nas páginas 266 e 267 encontramos a seguinte explicação:
"A Macuta era moeda de conta, ou forma de contar, de que usavam os negros em alguns sítios da Costa da África, e particularmente em Angola. Estabelecido o número destas moedas que pretendiam por um escravo, avaliavam também em Macutas os diferentes objetos que deviam dar em troca, e por esta forma faziam todas as suas transações. Parece que por este motivo o Sr. D. José I mandou lavrar as moedas de prata e de cobre com o nome de Macutas, e com o valor de Meio Tostão, para ficarem representando como moedas efetivas as formas porque ali se contava."
Embora só existam documentos mostrando Macutas sendo lavradas em Lisboa a partir de 1769, existem moedas de prata e de cobre de 1762 e 1763. Eram, obviamente, uma tentativa lusa de disciplinar o uso de moedas na "África Portuguesa". Interessante é saber que também no Brasil foram lavradas Macutas, conforme atesta o mesmo autor e conforme se vê na fotografia ao lado:
"Em 1814 se lavraram no Brasil 2, 1 e 1/2 Macutas de cobre, para Angola, com metade do peso que tinham as que anteriormente se haviam feito; e parece que por esses tempos se puseram contramarcas ou carimbos nas correntes de cobre lavradas pelo Sr. D. José I e Sra. D. Maria I, para lhes dobrar o valor, tornando-as iguais às de 1814, o que não podemos verificar, porque desde que o Sr. D. João VI foi em 1807 para o Brasil, unicamente do Rio de Janeiro se enviaram as ordens para os valores das moedas das nossas colônias." (²)
Está aí, portanto, para satisfação dos curiosos, uma "moeda de verdade", usada no tráfico de escravos.

(1) FERNANDES, Manuel Bernardo Lopes. Memória das Moedas Correntes em Portugal, Desde o Tempo dos Romanos, até o Anno de 1856. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1856.
(2) Ibid., p. 271.


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