quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Registrando os sons - Parte 2: O que tocava em um fonógrafo no Brasil do início do Século XX

A edição de janeiro de 1904 da revista Echo Phonographico trazia um anúncio de cilindros para fonógrafo, que incluía, basicamente, "Cantos em Espanhol", "Cantos em Italiano" (principalmente árias operísticas) e "Cantos da célebre soprano alemã Frau E. Reimann" (árias, também). Ou seja, o cardápio era reduzido e essencialmente importado. Entretanto, um ano depois, a mesma revista, na edição de janeiro de 1905, trazia este outro anúncio:


Note-se: "Cantados pelo Bahiano, o melhor cançonetista brasileiro"...  Há aqui, leitores, uma mudança muito significativa em relação aos fonogramas oferecidos no ano anterior. No mesmo anúncio, são listadas nada menos que cento e cinquenta e nove canções, dentre as quais "As Mocinhas Desta Terra", "Canção do Vagabundo", "Mulata Vaidosa", "Matuto do Ceará", "Cabocla", "Vacina Obrigatória", "Casa Branca da Serra", "Enterro da Sogra", "Cabra Decidido", "O Fazendeiro da Capital Federal". É fácil perceber que, rapidamente, as gravações musicais vinham ganhando espaço como entretenimento, e a oferta de fonogramas diversificava-se, para atender a todas as preferências, mesmo porque, a crer neste trecho da edição de fevereiro de 1905 do Echo Phonographico, havia grande procura por fonógrafos:
"Tão desenvolvido [sic] tem sido a procura de fonógrafos nestes últimos meses, que nos princípios de janeiro a Casa Edison dos Srs. Figner Irmãos lutou com sérias dificuldades para atender aos inúmeros pedidos que lhe chegavam de todos os pontos do Brasil.
Há dias recebeu aquele estabelecimento uma grande encomenda de aparelhos e tantos tem vendido que teve de fazer um novo pedido telegraficamente aos Estados Unidos, para que se não esgote o estoque antes de chegar nova remessa."
Sim, leitores, ainda que suponhamos algum exagero com interesse propagandístico, não podemos fugir dos fatos: esses aparelhos tornaram-se uma verdadeira febre, o objeto do desejo por excelência em um momento no qual o Brasil começava a tatear os encantos (e desencantos) do mundo capitalista, acarretando notáveis mudanças nos hábitos da população, à medida que as gravações de uso doméstico afiguravam-se muito melhores aos ouvidos do que suportar os modestos cantores que eventualmente vinham fazer apresentações nos teatrinhos das cidades do interior do Brasil.


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