quarta-feira, 2 de junho de 2010

Coisas do futebol

Reflexões sugeridas por uma competição mundial de futebol


Fui buscar em minha modestíssima coleção de selos (em que não punha as mãos há muito tempo) essas pequenas "relíquias filatélicas" de Copas do Mundo. E o resultado aí está. Se você, leitor, gostar de futebol, terá, quem sabe, algum divertimento.
Não, não vou discutir a tal "geopolítica do futebol"; não vou tentar mostrar os motivos pelos quais o futebol, ao contrário de outros esportes, tem muitos de seus principais atletas provenientes de países pobres; nem mesmo pretendo discorrer sobre o estranho fenômeno de que meninos subalimentados possam vir a ser atletas de excepcional compleição física, a despeito de suas origens. Mas não posso fugir a algumas reflexões que me parecem inevitáveis.
As Copas do Mundo de Futebol têm ainda muito pouco tempo de existência (em se tratando de proporções históricas, claro). Hoje sabemos que as Olimpíadas da antiga Grécia tiveram uma importância que transcendeu sua época, sendo um fator de influência até nossos dias, ao menos no plano ideológico, mas só o passar do tempo permitirá verificar se o mesmo poderá ser dito das Copas, ou se serão um fenômeno de importância restrita a apenas um século ou dois. Mas isso fica para os historiadores do futuro.
Entretanto, mesmo sendo breve, é inegável que a história das Copas revela muito sobre a história do século XX como  um todo. Para se ter uma ideia, podemos falar da influência fascista nas competições de 1934 e 1938 (vencidas pela Itália), do impacto exercido pela Segunda Guerra Mundial (já que as Copas de 1942 e 1946 não foram realizadas), do drama da Guerra Fria na vida pessoal de muitos atletas (como Puskás, que competiu em 1954 pela Hungria e em 1962 pela Espanha), ou do uso político da Copa de 1978 por parte do governo ditatorial na Argentina. Podemos, em se tratando de eventos mais recentes, falar do intenso movimento migratório decorrente da globalização, evidenciado pela quantidade de jogadores "estrangeiros" atuando pelas seleções europeias, o que poderia, aparentemente, descaracterizar a Copa do Mundo como uma competição entre países ou, por outro lado, dar a falsa impressão de que a humanidade chegou a um patamar superior de aceitação e entendimento. E, contudo, quando a bola rola, ressurgem os velhos nacionalismos, cujo óbito tinha sido erroneamente constatado... Vê-se que foram inumados vivos e que apenas aguardam o momento dos hinos nacionais, antes de cada partida, para saltarem da cripta do passado para as arquibancadas dos estádios.
Senhores leitores, talvez guardemos em nós mais vestígios tribais do que em geral pensamos!



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